sexta-feira, 17 de junho de 2016

Na terra do arroz, só a fotografia fica

Várzea Alegre, foi um dos municípios que mais produziu arroz no estado do Ceará. Localizado no Sul do Estado, Várzea Alegre ficou conhecida como “A terra do Arroz”.

Hoje, o título de terra do arroz serve apenas para reverenciar a história dos nossos antepassados.
Ainda é possível encontrar alguns poucos arrozais e agricultores felizes fazendo a colheita. Mas fica no passado, a alegria dos ajuntamentos das famílias e dos amigos no corte e “bater” do arroz, o ensacamento e no transportar do produto para encher os paióis das casas, a grande maioria feito no lombo de animais.

O fotógrafo varzealegrense, Augusto César, se propôs a matar a saudade dos tempos em que o município tinha os campos dourados pelos grãos de arroz.

Como cena rara, Augusto César fotografou o agricultor Francisco Januário do Nascimento, 56, mais conhecido por “Chico Derramado”, colhendo arroz, fruto de uma plantação feita há seis meses, no Sanharol. O Sanharol, até bem recente, era área rural do município de Várzea Alegre, mas foi mais uma comunidade engolida pelo crescimento da cidade e hoje é um bairro populoso.

Em seu depoimento, Chico Derramado lembra que antigamente, o preparo da terra para o plantio era feito totalmente de forma braçal, cabendo ao agricultor destocar a terra, limpar a área e plantar com as covas cavadas com enxadas. “Hoje é tudo muito diferente. A terra é feita com um trator e a plantação é com máquinas”- disse.

A cena fotografada por Augusto César se torna mais rara ao avançar dos anos. A tradição e a cultura, sucumbem ao progresso, e dão lugar ao conhecimento elaborado e à tecnologia.

Hoje, as plantações de arroz, milho e feijão, culturas tradicionais de sequeiro, estão reduzidas, encolhidas entre as capineiras e o gado de leite e corte, que surgem como alternativas ao trabalhador rural varzealegrense para vencer a crise no campo, sustentar as famílias e satisfazer suas necessidades.

E não é por acaso que o agricultor corre para praticar outras atividades camponesas. Esse processo de transição deixa saudades. O homem do campo acena ao que ficou e leva no coração suas raízes, mas precisa realmente mudar.

A realidade é dura. Segundo nos explicou o secretário de Desenvolvimento Agrário e Econômico de Várzea Alegre, André Fiúza, a prática da agricultura, e especialmente, a plantação de arroz, se tornou inviável. Segundo Fiúza, não temos como mecanizar a agricultura do município, pois as plantações acontecem em pequenas áreas de terra. Nas regiões do país, como a região Sul, que produz em grande escala, o processo de produção é todo mecanizado e isso barateia o custo final do produto.
De acordo com André Fiúza, em Várzea Alegre, para o agricultor produzir uma saca de arroz de 60Kg, ele tem um custo de cerca de R$ 65,00 a R$ 70,00. Essa mesma saca de arroz é comercializada ao preço de cerca de R$ 58,00. Prejuízo. Nas regiões que produzem em larga escala, essa mesma produção não chega a R$ 30,00.

Para André Fiúza, além do elevado custo, outro problema que inviabiliza a plantação de arroz é de ordem ambiental, já que exige alto consumo de água e também de herbicidas, sendo este último, responsável pelo empobrecimento do solo.

Mesmo sendo um processo doloroso, quebrando rotinas, mexendo na ordem cultural, embora a resistência de alguns trabalhadores que gostam de trabalhar a terra como no tempo de seus avós e de seus pais, é preciso dizer que as terras não estão abandonadas ou ociosas. Para André Fiúza, o homem do campo tem plantado nessas áreas, de terras férteis e produtivas, frutas, capim e tem explorado a cultura do mel, leiteira e do gado de corte, entre outras. Todas essas atividades se apresentam mais rentáveis para os trabalhadores.

É... o tempo avança na velocidade da luz. Fica a poeira na estrada e nas nossas mentes, a imagem gravada dos homens em meio ao dourado dos arrozais. Essas roças e campos de arrozais, que mais na frente, serão mostrados aos nossos filhos apenas na imortalidade da fotografia.


Marcos Filho.

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