Várzea Alegre, foi um dos municípios que mais produziu arroz
no estado do Ceará. Localizado no Sul do Estado, Várzea Alegre ficou conhecida
como “A terra do Arroz”.
Hoje, o título de terra do arroz serve apenas para
reverenciar a história dos nossos antepassados.
Ainda é possível encontrar alguns poucos arrozais e
agricultores felizes fazendo a colheita. Mas fica no passado, a alegria dos
ajuntamentos das famílias e dos amigos no corte e “bater” do arroz, o
ensacamento e no transportar do produto para encher os paióis das casas, a
grande maioria feito no lombo de animais.
O fotógrafo varzealegrense, Augusto César, se propôs a matar
a saudade dos tempos em que o município tinha os campos dourados pelos grãos de
arroz.
Como cena rara, Augusto César fotografou o agricultor
Francisco Januário do Nascimento, 56, mais conhecido por “Chico Derramado”,
colhendo arroz, fruto de uma plantação feita há seis meses, no Sanharol. O
Sanharol, até bem recente, era área rural do município de Várzea Alegre, mas
foi mais uma comunidade engolida pelo crescimento da cidade e hoje é um bairro
populoso.
Em seu depoimento, Chico Derramado lembra que antigamente, o
preparo da terra para o plantio era feito totalmente de forma braçal, cabendo
ao agricultor destocar a terra, limpar a área e plantar com as covas cavadas
com enxadas. “Hoje é tudo muito diferente. A terra é feita com um trator e a
plantação é com máquinas”- disse.
A cena fotografada por Augusto César se torna mais rara ao
avançar dos anos. A tradição e a cultura, sucumbem ao progresso, e dão lugar ao
conhecimento elaborado e à tecnologia.
Hoje, as plantações de arroz, milho e feijão, culturas
tradicionais de sequeiro, estão reduzidas, encolhidas entre as capineiras e o
gado de leite e corte, que surgem como alternativas ao trabalhador rural
varzealegrense para vencer a crise no campo, sustentar as famílias e satisfazer
suas necessidades.
E não é por acaso que o agricultor corre para praticar
outras atividades camponesas. Esse processo de transição deixa saudades. O
homem do campo acena ao que ficou e leva no coração suas raízes, mas precisa
realmente mudar.
A realidade é dura. Segundo nos explicou o secretário de
Desenvolvimento Agrário e Econômico de Várzea Alegre, André Fiúza, a prática da
agricultura, e especialmente, a plantação de arroz, se tornou inviável. Segundo
Fiúza, não temos como mecanizar a agricultura do município, pois as plantações
acontecem em pequenas áreas de terra. Nas regiões do país, como a região Sul,
que produz em grande escala, o processo de produção é todo mecanizado e isso
barateia o custo final do produto.
De acordo com André Fiúza, em Várzea Alegre, para o
agricultor produzir uma saca de arroz de 60Kg, ele tem um custo de cerca de R$
65,00 a R$ 70,00. Essa mesma saca de arroz é comercializada ao preço de cerca
de R$ 58,00. Prejuízo. Nas regiões que produzem em larga escala, essa mesma
produção não chega a R$ 30,00.
Para André Fiúza, além do elevado custo, outro problema que
inviabiliza a plantação de arroz é de ordem ambiental, já que exige alto
consumo de água e também de herbicidas, sendo este último, responsável pelo
empobrecimento do solo.
Mesmo sendo um processo doloroso, quebrando rotinas, mexendo
na ordem cultural, embora a resistência de alguns trabalhadores que gostam de
trabalhar a terra como no tempo de seus avós e de seus pais, é preciso dizer
que as terras não estão abandonadas ou ociosas. Para André Fiúza, o homem do
campo tem plantado nessas áreas, de terras férteis e produtivas, frutas, capim
e tem explorado a cultura do mel, leiteira e do gado de corte, entre outras.
Todas essas atividades se apresentam mais rentáveis para os trabalhadores.
É... o tempo avança na velocidade da luz. Fica a poeira na
estrada e nas nossas mentes, a imagem gravada dos homens em meio ao dourado dos
arrozais. Essas roças e campos de arrozais, que mais na frente, serão mostrados
aos nossos filhos apenas na imortalidade da fotografia.
Marcos Filho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário