segunda-feira, 6 de julho de 2015

MPEs também podem ser verdes e sustentáveis

Ao contrário do pensamento comum, de que as ações sustentáveis estão restritas às grandes empresas, por terem custos elevados, exigindo, assim, investimentos altos, as micro e pequenas empresas (MPEs) também podem ser verdes e sustentáveis. Em um artigo, Marcus Nakagawa, presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps), afirmou que sustentabilidade “é muito mais que pequenas ações ecológicas ou processos socialmente corretos. É um trabalho de colocar o tema no processo de produção, no relacionamento com os stakeholders (públicos de relacionamento da empresa) e, principalmente, no desenvolvimento de produtos e serviços que sejam inovadores, inclusivos, ecológicos e que, de preferência, resolvam efetivamente problemas do nosso planeta”.
A gestora ambiental Tarcília Rego reitera o argumento de Nakagawa e recomenda a empresa a pensar na dimensão ambiental, desde criação do plano de negócio. Ela concorda que ainda há o pensamento recorrente de que o investimento em ações sustentáveis ou em negócios verdes requer muito dinheiro. No entanto, aponta que essa ideia é um mito. “Aí está o grande desafio. É preciso pensar neste aspecto desde o início, o investimento será menor e diluído ao longo do tempo. Se a empresa começa em conformidade ambiental, já é um grande ganho, e isso, normalmente acontece.  É muito fácil criar um impacto ambiental, mais difícil é remediar esse impacto. É difícil criar, desenvolver ativo ambiental? Sim, mas os ganhos são maiores, seja na imagem e no resultado econômico”, avalia.
Tarcília cita duas empresas cearenses que, em sua opinião, destacam-se como exemplos em investimento de sustentabilidade e produtos verdes. A primeira é a Companhia Eletromecânica e Gerenciamento (Ceneged), criada por um grupo de ex-funcionários da Coelce, que faz leitura de consumo de energia e atende à Coelce e outras distribuidoras. Recentemente, toda a frota de motos da empresa foi trocada por motos novas, movidas a biocombustível. “Antes, os veículos eram movidos a combustível fóssil, gasolina”.
Outro exemplo é a marca Pode Crer, da Ong Grupo de Interesse Ambiental (GIA), que confecciona bolsas, carteiras, nécessaires e etc., a partir de lonas de outdoors que viraram resíduo ou lixo. “Ademais, com significado impacto social, o trabalho gera recursos para mulheres (donas de casa) que tinham nenhuma renda. Estas mulheres ganham por produtividade, ou seja, por materiais produzidos e não por horas trabalhadas”, destaca Tarcília.

Financiamento
Empreendedores que pretendem aliar crescimento econômico à mitigação de impactos, preservação ou mesmo recuperação do meio ambiente podem contratar linhas de crédito para sustentar o plano estratégico. O Programa de Financiamento à Sustentabilidade Ambiental (FNE Verde), operado pelo Banco do Nordeste (BNB), por exemplo, tem o objetivo de promover o desenvolvimento de empreendimentos e atividades econômicas que propiciem a preservação, conservação, controle e ou recuperação do meio ambiente, com foco na sustentabilidade e no aumento da competitividade das empresas e cadeias produtivas.
Dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), existem modalidades especiais que preveem financiamento de projetos de uso sustentável de recursos florestais, recuperação ambiental e convivência com o semiárido, produção de base agroecológica, controle e prevenção da poluição e da degradação ambiental, energias renováveis e eficiência energética, tecnologias ambientais, armazenamento hídrico, sistemas agroflorestais, entre outros. São eles: Pronaf ECO, Agroecologia, Floresta e Semiárido.
As linhas do Pronaf financiam até 100% do projeto, com taxas de juros a partir de 1% ao ano, com reembolso de acordo com a capacidade de pagamento do cliente, limitado ao prazo total de 20 anos. De acordo com Fran Bezerra, superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) do BNB, o banco foi pioneiro no financiamento a empreendimentos sustentáveis na região em que atua. “O banco dispõe da linha FNE Verde, que atende a demandas de crédito relacionadas à sustentabilidade oriundas de clientes de diversos setores, rural e não rurais, e portes, do mini e micro ao grande”, afirma.
Dos recursos do FNE Verde, em 2014, foram aplicados no Nordeste R$ 247,4 milhões, sendo R$ 148,1 mil apenas no Ceará. Conforme Bezerra, em 2015, até o mês de maio, foram aplicados R$ 5,4 milhões, sendo 5,14% desse valor no Ceará. Seguindo a programação do FNE 2015, a meta de aplicações do FNE Verde na área de atuação do BNB, em 2015, é de R$ 199,5 milhões. “Caso a demanda seja maior que essa, o banco poderá avaliar a ampliação de valor”, garante o superintendente.
ITENS FINANCIÁVEIS DO FNE VERDE

l Uma empresa pode recursos florestais
lRecuperação ambiental e convivência com o semiárido
lProdução de base agroecológica
lControle e prevenção da poluição e da degradação ambiental
lEnergias renováveis e eficiência energética (somente para consumo próprio do empreendimento)
lEficiência no uso de materiais
lPlanejamento e gestão ambiental
lAdequação às exigências legais
 
Programa de Financiamento à Sustentabilidade Ambiental - FNE Verde
Segundo o superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), Fran Bezerra, o FNE Verde traz, basicamente as mesmas condições de financiamento de outros programas do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), porém com os seguintes diferenciais: os prazos máximos podem ser ampliados para até 20 anos, incluída carência de até oito anos, para projetos de geração de energia a partir de fontes renováveis, substituição de combustíveis de origem fóssil por fontes renováveis de energia, plantio de florestas, sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas ou sistemas agroflorestais e recuperação de áreas degradadas.
Nos projetos para regularização e recuperação de áreas de reserva legal ou preservação permanente degradadas com culturas de longo ciclo de maturação, a carência pode ser ampliada para até 12 anos. “Ressalte-se que a definição de prazos e carência de projetos a serem financiados dependerá das condições específicas de pagamento definidas por ocasião da elaboração, análise e aprovação do projeto”, explica Bezerra.
É importante frisar que projetos de geração, transmissão e distribuição de energia somente podem ser financiados se forem para consumo próprio do empreendimento, admitida a comercialização da energia excedente, desde que limitada a 50% da capacidade de geração prevista no projeto. “Outro diferencial é uma taxa de juros específica para operações florestais destinadas ao financiamento de projetos de conservação e proteção do meio ambiente, recuperação de áreas degradadas ou alteradas e desenvolvimento de atividades sustentáveis, a qual está passando para 8,53% ao ano para todos os portes, conforme recentemente estabelecido pelo Banco Central”.
 
PONTO DE VISTA

Qual é a diferença entre verde e sustentável?

Uma empresa pode ser verde e sustentável? Um conceito pode ser independente do outro? Para a gestora ambiental e editora de O Estado Verde, Tarcília Rego, as empresas podem ser verdes e sustentáveis. No entanto, nem sempre as sustentáveis são verdes. “A empresa verde vai além. Ela busca provocar mudança de comportamentos através do que ela produz. Por exemplo, um restaurante oferece uma comida maravilhosa com um atendimento maravilhoso, com preço acessível, a verde, também, só que este oferece um menu produzido a partir de frutas, verduras, legumes e cereais orgânicos. Vai além, no cardápio sobre as mesas, o restaurante reforça a ideia com mensagens que deixem claro o impacto dos agrotóxicos nos ecossistemas e na saúde, assim como os impactos positivos dos orgânicos, como um todo. É mais ou menos assim:  a empresa verde não transmite ou vende apenas o que ela faz, mas o porquê de estar produzindo aquele determinado produto. É o caso de produzir camisetas a partir de fios provenientes de garrafas PET recicladas, estampadas com mensagens ecológicas”, explica Tarcília.
Para Tarcília, é importante para as micro e pequenas empresas a conscientização sobre o impacto que a sustentabilidade traz para o negócio. Segundo sua análise, as MPEs já estão mais atentas a esse conceito de desenvolvimento, porém, é preciso mais incentivo às MPEs que são verdes. “Uma empresa verde precisa ser incentivada. Não faz sentido, por exemplo, quem produz com menor impacto pagar o mesmo imposto de quem produz com grande impacto. Uma pequena recicladora, além de gerar emprego, renda, impactar socialmente, impacta ambientalmente, ao prestar o serviço ambiental urbano de retirar das caçambas o lixo que é responsabilidade do poder público destinar. Mas, o próprio reciclador não tem noção de o quanto o seu serviço é útil à sociedade. Muitas recicladoras trabalham em desacordo com as normas ambientais (não conformidade), afirmando que custa caro produzir de forma mais limpa”, aponta a gestora ambiental.
 
Fonte: O Estado

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você conhece o seu pior inimigo?

Não importa onde você esteja ou o que está fazendo, seu pior inimigo está sempre com você - seu ego. "Não é o meu caso", você p...