Tratar de demitir
pessoas nem sempre é uma tarefa fácil, no entanto, às vezes, necessária para o
bem da equipe e sucesso da empresa. Entenda melhor como lidar com essa situação
no artigo de Mauro Segura, que é líder de marketing e comunicação na IBM Brasil,
para a revista Meio e Mensagem.
Marcos Filho
Há muitos anos atrás, num dos meus primeiros empregos, trabalhei numa empresa que estava se expandindo e contratando muita gente. No dia da minha entrada iniciaram comigo mais dois novos colegas de trabalho. Um deles se chamava Roberto. Ficamos sob a gestão de um mesmo gerente, que comandava um grupo de aproximadamente 20 pessoas. O clima era bom e o gerente parecia ser uma boa pessoa.
Em menos de três meses eu percebi que Roberto era um sujeito
complicado. Ele não gostava de trabalhar, era pessimista de carteirinha, sempre
achava que o copo dele estava mais vazio, sempre reclamava de tudo, falava mal
de todos, mostrava insatisfação com a empresa, nunca demonstrava entusiasmo e
influenciava a todos. Quando ele chegava de manhã no escritório, raramente dava
"bom dia", parecia que carregava uma nuvem preta na cabeça, pois ele
incendiava o grupo e todos entravam na pilha da insatisfação e pessimismo dele.
Ele era realmente uma pessoa desagradável.
Para resumir a história, Roberto transformou o grupo num
time de infelizes trabalhadores. Após um ano de sua entrada na empresa, quase
metade do grupo pediu demissão do emprego. Foi uma debandada. Todos, inclusive
a gerência, tinham consciência da influência devastadora de Roberto e de que
ele era a principal razão de tudo que estávamos passando. Mesmo assim, mesmo
após todos os danos e a destruição do grupo, a empresa ainda levou meses para tomar
a decisão de demitir Roberto. Aquela foi uma lição aprendida.
Por que as empresas demoram tanto tempo para demitir alguém
incompetente e perverso para o grupo? Por que as empresas aceitam conviver com
péssimos influenciadores? Por que os gerentes procrastinam tanto na hora da
tomada de decisão de uma demissão?
Segundo Lucy Kellaway, os gestores adiam essa decisão por
três motivos: eles se apegam a vã esperança de que a pessoa vá mudar (ela quase
nunca muda), eles relutam em admitir que fizeram uma escolha errada, e eles
recuam da situação desagradável que é demitir alguém.
Depois da experiência descrita acima, recebi uma oferta de
emprego e fui para outra empresa. Após meses de trabalho, a empresa contratou
um novo diretor, vindo de fora da organização. Lembro que em apenas dois dias
ele demitiu um analista financeiro que tinha muito tempo de casa. Perguntado
por que ele demitiu aquela pessoa tendo apenas dois dias de convivência, ele
respondeu: "Como posso conviver com um analista financeiro que se diz
sênior, mas não responde às perguntas e não sabe usar Excel?" Nunca mais
esqueci essa resposta dele.
Desde então eu aprendi a mapear muito bem quem são os bons e
os maus colegas no trabalho e, principalmente, quem são os principais
influenciadores da equipe. Com o passar do tempo eu desenvolvi uma teoria
simples, porém não é propriamente uma novidade, pois já vi versões variadas do
meu conceito. Ao longo de 20 anos como gerente fui testando e desenvolvendo o
conceito. Incrivelmente ele funciona na maioria das vezes. Chamei esse conceito
de 2-6-2.
Num grupo de 10 pessoas no trabalho, é possível identificar
duas supermotivadas, otimistas e para cima. Por outro lado, no mesmo grupo,
somos capazes de identificar duas pessoas rabugentas, pessimistas, que influenciam
negativamente o grupo e que estão sempre para baixo. Por fim, existem seis
pessoas que são observadoras, influenciáveis e que às vezes são influenciadas
pelos positivos, ora pelos negativos.
O conceito 2-6-2 pode ter variações numéricas, mas quase
sempre é infalível. O sucesso da equipe vai depender de quem tem mais poder e
influência sobre as pessoas observadoras. É nesta hora que o gerente tem que
atuar, privilegiando e destacando os positivos. Se isso acontecer, a equipe se
contagia e o espírito positivo prevalece dentro do grupo. Camaradagem, parceria
e entusiasmo passam a imperar se o pêndulo do grupo estiver favorável. Cabe ao
gerente saber identificar esses perfis positivos e dar maior espaço para eles
no dia a dia.
Não estou dizendo que ter pessoas menos positivas seja de
todo ruim. Muitas vezes pode ser interessante ter alguém mais crítico, mais
duro e questionador dentro do grupo, alguém menos confiante e até, às vezes,
uma espécie de ovelha negra. Mas este não deve ser o espírito reinante. Pense
nisso. Pense no grupo onde trabalha e faça o exercício. Escolha estar do lado
do colega certo em seu trabalho. Fique perto de quem passa boa energia, tem
espírito de time e acredita numa sociedade melhor. Vai ficar bem mais fácil
trabalhar assim.
Mauro Segura é líder
de marketing
e comunicação na IBM Brasil
Fonte: ww.meioemensagem.com.br
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