Jurani Clementino é graduado em Jornalismo, Especialista em
Comunicação e educação, Mestre em Desenvolvimento Regional, Professor
universitário e cronista. Atualmente faz Doutorado em Ciências Sociais pela
UFCG.
Nem preciso dizer que sou fã desse varzealegrense talentoso, que considero grande vencedor na vida.
Certamente ainda tem muito a conquistar, restando a mim, a torcida pelo seu sucesso. Avante, garoto!
Certamente ainda tem muito a conquistar, restando a mim, a torcida pelo seu sucesso. Avante, garoto!
Reproduzo aqui, texto de sua autoria, publicado no site paraibaonline.com.br, do qual o nobre jornalista é colunista.
O buraco de Dona Lídia
Já disse em outra ocasião, aqui mesmo nesta coluna, que na
minha comunidade, ao contrário das demais localidades vizinhas, não possuía
açudes. Entretanto quando chovia a diversão da molecada era um banho de riacho.
A concentração acontecia na parte mais funda do riacho apelidado de “O buraco
de Dona Lídia”. A referência era a uma senhora de idade que costumava lavar
roupas à beira deste poço. Quando a velha morreu resolveram homenageá-la. Foi
ali, no buraco de dona Lídia, que aprendi a nadar. Pouco e ruim confesso.
As vezes nem esperávamos a chuva passar. Saíamos correndo
por entre as poças d’água, saltando os riozinhos que serpenteavam pelo caminho.
Éramos tomados por numa animação só. Nem pedíamos permissão aos nossos pais.
Traquinagem devia ser feita à revelia deles. Quando a chuva acontecia durante a
manhã, em pouco tempo a molecada se reunia às margens daquele poço. Iam
chegando, tirando a roupa e saltando na água. A correnteza ia aumentando à
medida em que a água das chuvas descia das chapadas, serrotes e grotões. Quanto
maior a correnteza, melhor, mais emocionante e desafiante para nós meninos do
sítio.
Improvisávamos tudo. Com três pedaços de pau (cipós),
construíamos um pula-pula. Os meninos mais jovens eram desafiados pelos mais
velhos. Estes saltavam de cabeça na água após passar por cima do obstáculo. Se
jogavam na correnteza e despertavam o interesse e a curiosidades dos mais
jovens. Primeiro saltavam o obstáculo em pé, depois com um sobrevoou e
posteriormente uma espécie de pirueta. O pula-pula era armado na margem do
riacho. Tinha que ser sobre uma barreira para que o salto (quase ornamental)
ficasse perfeito. Por isso o buraco de dona Lidia foi sendo explorado em toda a
sua extensão. A vegetação que ladeava as margens foi aos poucos sendo pisoteada
pelos meninos. Era a nossa piscina natural. A água barrenta não era problema. O
que valia era a festa em si.
Festejava-se a continuidade das chuvas. Festejava-se o
reencontro com os amigos. Festejavam-se as vitórias com os novos saltos
conquistados. Pulava-se por não se ter muito o que fazer naqueles dias de
inverno. Viver era simples e doce. A sociabilidade juvenil se dava quase que
completamente ali no buraco de dona Lídia. Os conflitos infanto-juvenis também.
Brigar, enfrentar um desafeto instantâneo, significava uma espécie de ritual de
passagem. O menino que chegava a adolescência sem ter protagonizado uma “briga”
pública, de preferência nestas ocasiões sociais, corria o risco de ser
ridicularizado como “florzinha”. Homem de verdade tem que enfrentar outro. Tem
que ter coragem o suficiente para rolar na lama sob os olhos e aplausos dos
demais colegas. E tudo se resolvia ali. Lavava-se a honra nas águas barrentas
do buraco de dona Lídia. Buraco que hoje já não existe mais. Buraco das
lembranças perdidas e às vezes esquecidas pela memória.
Jurani Clementino – Campina Grande 20/03/2013
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