quarta-feira, 13 de março de 2013

Justa homenagem


Ouvi do secretário de Cultura e Turismo de Várzea Alegre, Milton Bezerra, nesta terça-feira, 12, que é sua intenção prestar homenagem ao Padre Antônio Vieira, que em 19 de abril deste ano, completa dez anos do seu falecimento. A homenagem é mais do que justa. O Padre Vieira foi é um dos ícones da cultura varzealegrense. 

Irreverente, inconteste e um homem que tinha o dom da pena – escreveu ricas obras literárias. Padre Vieira foi deputado, advogado, jornalista e professor. Destacou-se no cenário nacional e até internacional ao fundar o Clube do Jumento.

Sugiro que essa homenagem seja feita em parceria com a AVLPV – Academia Varzealegrense de Letras, entidade literária da qual o Padre é Patrono.

É bom lembrar que o povo cobra o museu para abrigar os pertences do Padre, que já estão encaixotados em Várzea Alegre há mais de seis anos.

Conheça um pouco mais da história desse grande gênio.

Antônio Batista Vieira – o Padre Vieira – filho de Vicente Viera da Costa e Senhorinha Batista de Freitas - nasceu no Sítio Lagoa dos Órfãos (atualmente Cristo Rei), ao sopé da Serra dos Cavalos, no município de Várzea Alegre, Ceará, no dia 14 de junho de 1919.

Recebeu de Dona Senhorinha os seus estudos iniciais (Carta do ABC). Os estudos primários aconteceram em escolas particulares onde reinavam os castigos físicos, os ditados e a valorização da memorização. Realizou os Cursos de Admissão e Ginasial no Seminário do Crato. No Seminário Maior de Fortaleza, cursou Filosofia e Teologia. Ordenou-se sacerdote no município de Crato, em 27 de setembro de 1942. Cursou Administração de Empresas na Universidade da Califórnia, Estados Unidos. Fez o curso de Direto na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cursou Licenciatura em Filosofia na Faculdade de Filosofia de São João Del Rei, Minas Gerais.

Padre Vieira foi professor de Português, Latim, Italiano e Grego no Seminário do Crato. Foi Redator-Chefe do jornal “A Ação”, Crato. Trabalhou no jornal “O Povo” onde escrevia crônicas “Bom dia, meu irmão” com o pseudônimo Antônio Teixeira. Foi Diretor do Ginásio Nossa Senhora da Expectação, no município de Icó. Foi professor de Antropologia Crítica e Problemas Filosóficos na Universidade Santa Úrsula e professor de ética na Faculdade Jacobina no Rio de Janeiro. Foi deputado federal e, por denunciar os desmandos de então, foi cassado pelo AI-5.

Padre Vieira sempre manteve, como centro de suas reflexões e preocupações, o ser humano, suas dores, sofrimentos, dúvidas e angústias que foram transformados nos seguintes livros: 100 Corte Sem Recortes (1963), O Jumento, Nosso Irmão (1964), O Verbo Amar e Suas Complicações (1965), Sertão Brabo (1968), Mensagem de Fé para quem não tem Fé (no Brasil, em 1981, e no Chile, em 1983), Penso, Logo Desisto (1982), Pai Nosso (1983), Bom-Dia, Irmão Leitor (1984), Por que Fui Cassado (1985), Gramática do Absurdo (1985), A Igreja, o Estado e a Questão Social (1986), A Família (Evolução histórica, sociológica e antropológica – 1987), Eu e os Outros (1987), Roteiro Místico e Lírico sobre Juazeiro do Norte”(1988), Eu sou a Mãe do Belo Amor (1988), Senhor Aumentai a Minha Fé” (1989), “Filosofia, Política e Problemas Jurídicos”(1989), Pensamentos do Padre Antonio Vieira (1990), Fatos Interessantes e Pitorescos (2001) e Crônicas Afiadas (2003).
Em Antônio Batista Vieira coexistiam o padre, o advogado, o jornalista, o escritor, o político e o filósofo. Em todos esses sempre estiveram presentes, além de uma larga compreensão, um profundo apego à ética e à justiça.

Como padre, sempre esteve acompanhado de uma sólida e profunda compreensão antropológica e sociológica da igreja, no sentido de percebê-la como um caminho para que o homem se liberte dos seus condicionamentos de opressão. Dizia o egrégio padre que “a igreja devia tomar a iniciativa de conciliar as tendências diferentes e liderar um momento universal de concórdia, de solidariedade, de fraternidade”. Seguindo o mesmo raciocínio, afirmava só haver um caminho para a valorização do homem, que seria colocar a riqueza, a técnica, a cultura e o Direito a serviço do ser humano.

Como advogado, não obstante a decepção com a advocacia, foi um eterno e hercúleo defensor da seleção dos meios mais eficazes para descobrir a verdade e evitar o erro. Como advogado, sempre vivenciou o princípio ético que proteciona os direitos fundamentais do ser humano. Mas decepcionado com a advocacia, em função da inexistência de uma compreensão antropológica e sociológica do Direito, o eminente advogado afirmou: “Penetrei nos umbrais da advocacia, como um neófito, deslumbrado com a beleza e sublimidade dos conceitos jurídicos e os ideais sublimados da justiça. E agora estou enrolando o meu pergaminho de bacharel e enfiando no canudo, como uma eterna sepultura”. O nobre causídico sentia com tristeza inefável o aniquilamento do princípio jurídico que se destina a proporcionar aos litigantes, igualdade de litígio e justiça na decisão.

No jornalista, sempre estiveram presentes as reflexões acerca do mundo e do próprio homem, mostrando seu humanismo, sua grandeza, jamais calando diante do angustiante problema de desvalorização do ser humano. Padre Vieira nunca deitou silêncio sobre as desigualdades sociais e iniquidades historicamente produzidas.

Como escritor, deixou uma obra riquíssima, onde o brilhante conteúdo deixa transparecer a sua inteligência privilegiada e a sua cultura polimorfa. “O Jumento, Nosso Irmão”, foi considerado, pela BBC de Londres como o livro mais completo do mundo sobre o jumento. Como escritor, falou da sua “Várzea Alegre” como poucos, mostrando a cultura, o dia-a-dia do homem sertanejo e as suas idiossincrasias.

Como político, foi injustiçado pela elite jurássica e obsoleta da política brasileira. Cassaram-lhe o mandato, mas não o impediram de amar o seu próximo e continuar a defendê-lo. “O sol nasceu para todos, mas a sombra para poucos”. Este célebre axioma é fruto das suas reflexões cotidianas sobre o mundo e o homem. As injustiças e a exploração do homem pelo homem, foi o que o Deputado Federal Padre Vieira combateu com coragem e inteligência. Cassar o político não foi suficiente para cassar também o seu eterno espírito de fraternidade e solidariedade. Cassaram o político e fortaleceram o cidadão Antônio Batista Vieira.

Agora, torna-se imperioso destacar o filósofo, aquele que através das profundas reflexões, buscou a compreensão do homem e do mundo em seus conflitos e intempéries. O incansável filósofo não estacionou no campo teórico e conceitual; ele foi mais além, buscando denunciar as injustiças, as agressões ao meio ambiente e tudo aquilo que interfere na realização dos direitos primaciais do ser humano. Foi como filósofo que, em Antônio Batista Vieira, brilharam o padre, o jornalista, o escritor, o advogado, o político e o célebre e inesquecível cidadão varzealegrense.

Padre Vieira faleceu na madrugada de sábado do dia 19 de abril de 2003 no Hospital das Clínicas em Fortaleza.

Antes o umbigo e o coração; agora o seu corpo. Padre Vieira nos deixou, mas nos acompanhará, para todo o sempre, pois sua obra, seus ensinamentos e os princípios éticos, tantas vezes difundidos, serão eternos referenciais em nossa caminhada. Padre Vieira dizia sempre: “Quando eu morrer, não quero lágrimas nem lamentos, porque não morri, apenas mudei de morada. Continuo vivo na casa do pai”.

Padre Vieira - agora conhecido como "Padre Vieira de Várzea Alegre" - foi escolhido o Patrono da Academia Varzealegrense de Letras.

Fonte: AVLPV

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